110. De Longe


De longe, eu venho de longe
Das ondas do Mar Sagrado
Para conhecer os poderes
Da floresta e Deus amar

Eu sigo neste caminho
Ando nele dias inteiros
Para conhecer o poder
E a Santa Luz de Deus Verdadeiro

No poder de Deus Verdadeiro
É preciso nós ter amor,
Nas estrelas do firmamento
E em tudo que Deus criou.

 

Essa majestosa valsa reporta ao inicio de tudo, mito fundante da doutrina do Santo Daime, quando em matéria o jovem Raimundo Irineu Serra singrava mares e rios em direção à floresta; e em espírito navegava no oceano quântico[427] do amor e da verdade.

O Mestre Irineu veio do Maranhão ainda jovem e ele não sabia da missão que ele vinha desenvolver aqui. Ele veio trazido espiritualmente pela ‘Rainha Mãe’, para receber essa missão aqui. Era a época áurea da borracha.[428]

Trabalhou como soldado da borracha, foi apresentado à bebida ayahuasca, e com uma revelação de Nossa Senhora da Conceição recebeu a instrução de replantar a Doutrina do Salvador.

Para eu conhecer os poderes
Da floresta e Deus amar

Os ensinos adquiridos com a Rainha através do Daime abriram a sua percepção dos poderes existentes na floresta - que são os poderes divinos - e o instruiu a amar e louvar a Deus.

No poder de Deus verdadeiro
É preciso nós ter amor
Nas estrelas do firmamento
E em tudo que Deus criou

Essa excursão nas ondas do mar sagrado nos recorda uma outra viagem feita por Irineu Serra, quando no 12 de novembro de 1957 ele retornou ao Maranhão, sua terra natal, para rever os seus.

Ele viajou num barco, no litoral do Maranhão. Um braço de mar muito bravo e tinha hora que o barco ficava cheio de água (...) O maior desejo dele era viajar assim dentro do mar. Aí viajou dessa vez, acho que dois dias e uma noite, no mar. E vinha mirando todo esse tempo, vendo as coisas mais lindas do mundo. E lá dentro dessa viagem foi que ele viu a mudança da farda que tinha que fazer. Mostraram pra ele, ensinaram tudo direitinho. A Rainha, a dona da casa mesmo, que acompanhou ele todo tempo. Que já estava com ele quando ele veio pela primeira vez do Maranhão pra cá, quando tomou Daime pela primeira vez.[429]

Nessa miração Mestre Irineu recebeu, do Alto, uma instrução ritualística de mudança da farda, muito significativa para o seu batalhão, pois resultou em melhoria de relacionamento dentro da irmandade.

A farda é que nem os hinos: vem de lá. De primeiro, quando a gente começou a se fardar, era umas túnicas de mescla, uns dólmãs, Tinha um chapéu branco na cabeça. Túnica de mescla e calça branca. Ou então ao contrário, túnica branca e calça de mescla. E o distintivo era estrela. Coronel era 6 estrelas. Tenente-coronel era 5. Aí tinha os soldados rasos, que às vezes só tinha uma. Aí pegavam a se engrandecer. Quando um tinha 6 estrelas, às vezes chegava para o outro que só tinha 5 e dizia:”olha, repara aqui”. Aí o Padrinho foi e mudou. Ficou uma só estrela para todo mundo, pra dizer que nós somos todos iguais.[430]

Deixou de existir no Exército Juramidam hierarquia piramidal, porquanto todos são iguais. As necessárias funções de comando dos batalhões perfilados no salão passam a ser regimentais e estatutárias, imprescindíveis para a organização e condução dos trabalhos, e não mecanismos de tornar alguns “muito viçosos”. 

E dessa maneira, dentro da verdade, todos podem dizer: somos irmãos.

 

Notas:

[427] TEIXEIRA de FREITAS. L. C. Disponível em http://www.juramidam.jor.br/10_sol-princesa.html Acesso em 15 de maio de 2005.
[428] Sebastião Jacoud in COUTO, Fernando da La Rocque. Santos e xamãs. 1989. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade de Brasília, p. 46.
[429] Depoimento de D. Peregrina Gomes Serra. In: Livro dos hinários. Centro de Iluminação Cristã Luz Universal Alto Santo. Brasília: Gráfica do Senado Federal, 1990, p. 12.
[430] Depoimento de Raimundo Gomes da Silva. In: Livro dos hinários. Centro de Iluminação Cristã Luz Universal Alto Santo. Brasília: Gráfica do Senado Federal, 1990, p. 14-15.

 


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